sábado, 31 de maio de 2008

A SOLIDÃO LOGO ACIMA DE NOSSAS CABEÇAS


Não.
Eu não quero falar que há muito a parada virou um carnaval.

Não quero falar que o espírito de congraçamento entre raças, cores e classes sociais não existe mais.

E muito menos quero falar que a parada reforça a imagem negativa que a sociedade tem dos homossexuais (com os carros que fazem, em sua maioria, menção a sites pornográficos e saunas masculinas; com o excesso de afetação; com as orgias praticadas em plena praça da república...).

Eu quero falar de uma senhora (a da foto) que se encontrava na sacada de um edifício situado em uma das avenidas percorridas pela parada.

A expressão de extrema solidão e apatia, certa atitude de desprezo (?) que ela esboçava me fez perguntar porque havia se postado ali pra ver a parada passar. E imediatamente me fez vez o esforço que todos faziam, logo abaixo, para parecerem felizes, integrados, livres... Inclusive nós (eu e mais dois amigos) que, talvez, fossemos os únicos sóbrios em meio à multidão (quantos éramos mesmo?).


Mas muita alienação seria necessária para permanecer feliz, quando diante dos meus olhos havia um garoto (tinha talvez uns oito anos) que trajando uma sunga branca dançava em plena avenida com todos os trejeitos característicos do “mundo gay”. Será que estava sozinho? Ou estava acompanhado dos pais?????

Tamanha propriedade com que alguém tão jovem exibia a sua sexualidade me assustou e me fez lembrar das nossas meninas, que vestidas com roupas minúsculas, fazem, em festas familiares, imitações das dançarinas de axé que até bem pouco tempo pululavam aos nossos olhos nos programas de TV.

Mas será mesmo que aquele garoto tinha consciência do que estava representando ali? E mais ainda, será que ele realmente tem consciência de qual seja a sua (des)orientação sexual?

Às vezes penso que ser gay (como ser qualquer outra coisa, na sociedade atual) virou um “modelito” de número único, que todos tem que vestir, se adequar a ele, sem qualquer questionamento. E não interessa o tamanho da violência que se sofra ou se auto-imponha, o que importa é vesti-lo. Individualidade (uso a palavra como significado da expressão de um indivíduo) não cabe neste “modelito”. E se não existem indivíduos, pois se tornou tudo uma grande massa indistinta, a tão propagada diversidade está longe de existir.

Enquanto isso, alguns continuam se iludindo, acreditando que seremos respeitados e aceitos se formos pra rua uma vez por ano esfregar na cara das pessoas as nossas mazelas.

Vocês devem estar se perguntando o que eu fui fazer ali? Nem eu mesmo sei. Talvez seja porque eu sou “lésbico”. Mas isso é assunto pra um futuro post.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

SENHORA DOS AFOGADOS - UM MELODRAMA




Este pequeno artigo constitui-se num ritual de morte. Ou melhor, num ritual de assassinato. Aquilo que os psicanalistas chamam de “matar o pai interno”.

Antunes Filho foi, por muitos anos, um mito pra mim. O seu Centro de Pesquisas Teatrais, o seu método, seus espetáculos de visual limpo e apurado, os grande atores quer “formou” e dirigiu...
Esse mito se quebrou quando vi Senhora dos Afogados.
Penso que Senhora dos Afogados, juntamente com Anjo Negro (um dos poucos textos de teatro que ousa tocar na questão do racismo de forma radical e original) são os dois textos mais difíceis de Nelson Rodrigues não só pela sua estrutura, mas pelo aspecto trágico que os mesmos carregam.

A montagem de Antunes, com seus característicos deslocamentos em bloco (parece que estamos vendo o ultimo espetáculo do grupo Macunaíma – A Pedra do Reino) e, principalmente, com uma música prévia que permeia a fala dos atores, enfraquecem o texto de Nelson, quando não presentificando a palavra (um dos pré-supostos da trágédia é que os personagens são o que falam) não a fazem virar carne e sangue e, consequentemente, vida.

Ao ler Senhora dos Afogados é impossível não lembrar do caso da menina Isabella, alardeado incessantemente pela imprensa. A FAMILIA DRUMONT É A FAMILIA NARDONI (até que se prove o contrário). Montar Senhora dos Afogados ou Anjo Negro sem provocar no espectador esse horror, sem mostrar a cada um de nós o assassino que abrigamos nas profundezas de nossa sombra (uso aqui a palavra sombra no sentido junguiano) não faz nenhum sentido. Vira apenas mais um espetáculo para inciados (nós, gente de teatro) que admira o mestre e sua estética. Estética, aliás, que começa a tornar-se questionável. Como uma obra (Senhora do Afogados) tão distinta de outra (A Pedra do Reino) pode ser levada ao palco com caracteríscas estéticas e visuais tão semelhantes?

Um crítico disse tratar-se a montagem de uma obra prima (não sei se foram exatamente estas as palavras) e apontou a qualidade das interpretações como ponto fraco do espetáculo. Mas estes atores não foram formados pelo método pesquisado há tantos anos no CPT?
Sabe-se que no CPT acontece uma grande rotatividade de atores, talvez pela dificuldade de se adaptarem ao método (extremamente rígido – COMO TEM DE SER). Mas a existência de um núcleo forte e talentoso mantinha o método vivo, contagiando os recém-chegados com o alto nível da pesquisa ali desenvolvida. Este núcleo sempre girou em torno de grandes atores. Luis Melo e Juliana Galdino são dois exemplos. Tenho impressão que Lee Talor está sozinho, tentando carregar um espetáculo nas costas. Tarefa ingrata pois Senhora dos Afogados (como a maioria das obras de Nelson Rodirgues) tem sua força centrada nos personagens femininos.

Por tudo isso, o que vemos em cena é um melodrama com todo o distanciamento que o gênero provoca no espectador de hoje, bombardeado pela violência completamente banalizada pelos meios de comunicação de massa.

P.S. : Passei o espetáculo inteiro esperando o momento em que entrariam os bonecos. Ainda bem que eles não foram utilizados desta vez.

"AO VENCEDOR AS BATATAS"

Tenho alguns amigos que dizem que eu escrevo bem -coisa de amigo- e que devo exercitar isto com um pouco mais de disciplina. Pois bem.... Este blog se destina à publicação das minhas idiossincrasias. Como diria o personágem Solioni da peça AS TRÊS IRMÃS, de Anton Chekov: "Menino, menino, menino." Depois não digam que eu não avisei: Ai vem chumbo grosso! hahahahahahahahahahahhaahahahahahahahahaha. Portanto, machadianamente vos digo: Ao vencedor as batatas. Mas que sejam fritas, pelo menos, que é mais ao agrado da maioria.

Pero a mi no me gustam las patatas fritas, aunque ayer las tenga comido.

Aos futuros leitores deste blog BIENVENIDOS.