segunda-feira, 26 de maio de 2008

SENHORA DOS AFOGADOS - UM MELODRAMA




Este pequeno artigo constitui-se num ritual de morte. Ou melhor, num ritual de assassinato. Aquilo que os psicanalistas chamam de “matar o pai interno”.

Antunes Filho foi, por muitos anos, um mito pra mim. O seu Centro de Pesquisas Teatrais, o seu método, seus espetáculos de visual limpo e apurado, os grande atores quer “formou” e dirigiu...
Esse mito se quebrou quando vi Senhora dos Afogados.
Penso que Senhora dos Afogados, juntamente com Anjo Negro (um dos poucos textos de teatro que ousa tocar na questão do racismo de forma radical e original) são os dois textos mais difíceis de Nelson Rodrigues não só pela sua estrutura, mas pelo aspecto trágico que os mesmos carregam.

A montagem de Antunes, com seus característicos deslocamentos em bloco (parece que estamos vendo o ultimo espetáculo do grupo Macunaíma – A Pedra do Reino) e, principalmente, com uma música prévia que permeia a fala dos atores, enfraquecem o texto de Nelson, quando não presentificando a palavra (um dos pré-supostos da trágédia é que os personagens são o que falam) não a fazem virar carne e sangue e, consequentemente, vida.

Ao ler Senhora dos Afogados é impossível não lembrar do caso da menina Isabella, alardeado incessantemente pela imprensa. A FAMILIA DRUMONT É A FAMILIA NARDONI (até que se prove o contrário). Montar Senhora dos Afogados ou Anjo Negro sem provocar no espectador esse horror, sem mostrar a cada um de nós o assassino que abrigamos nas profundezas de nossa sombra (uso aqui a palavra sombra no sentido junguiano) não faz nenhum sentido. Vira apenas mais um espetáculo para inciados (nós, gente de teatro) que admira o mestre e sua estética. Estética, aliás, que começa a tornar-se questionável. Como uma obra (Senhora do Afogados) tão distinta de outra (A Pedra do Reino) pode ser levada ao palco com caracteríscas estéticas e visuais tão semelhantes?

Um crítico disse tratar-se a montagem de uma obra prima (não sei se foram exatamente estas as palavras) e apontou a qualidade das interpretações como ponto fraco do espetáculo. Mas estes atores não foram formados pelo método pesquisado há tantos anos no CPT?
Sabe-se que no CPT acontece uma grande rotatividade de atores, talvez pela dificuldade de se adaptarem ao método (extremamente rígido – COMO TEM DE SER). Mas a existência de um núcleo forte e talentoso mantinha o método vivo, contagiando os recém-chegados com o alto nível da pesquisa ali desenvolvida. Este núcleo sempre girou em torno de grandes atores. Luis Melo e Juliana Galdino são dois exemplos. Tenho impressão que Lee Talor está sozinho, tentando carregar um espetáculo nas costas. Tarefa ingrata pois Senhora dos Afogados (como a maioria das obras de Nelson Rodirgues) tem sua força centrada nos personagens femininos.

Por tudo isso, o que vemos em cena é um melodrama com todo o distanciamento que o gênero provoca no espectador de hoje, bombardeado pela violência completamente banalizada pelos meios de comunicação de massa.

P.S. : Passei o espetáculo inteiro esperando o momento em que entrariam os bonecos. Ainda bem que eles não foram utilizados desta vez.

"AO VENCEDOR AS BATATAS"

Tenho alguns amigos que dizem que eu escrevo bem -coisa de amigo- e que devo exercitar isto com um pouco mais de disciplina. Pois bem.... Este blog se destina à publicação das minhas idiossincrasias. Como diria o personágem Solioni da peça AS TRÊS IRMÃS, de Anton Chekov: "Menino, menino, menino." Depois não digam que eu não avisei: Ai vem chumbo grosso! hahahahahahahahahahahhaahahahahahahahahaha. Portanto, machadianamente vos digo: Ao vencedor as batatas. Mas que sejam fritas, pelo menos, que é mais ao agrado da maioria.

Pero a mi no me gustam las patatas fritas, aunque ayer las tenga comido.

Aos futuros leitores deste blog BIENVENIDOS.