quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A CIDADE, OS CÃES E A FRAGILIDADE MASCULINA


O cotidiano de um grupo de garotos internos num colégio militar e as implicações disso em suas vidas, é o mote da novela A CIDADE E OS CÃES, de Mario Vargas Llosa.

Mais que isso temos, nesta brilhante novela, a constituição – dentro do colégio militar – de um microcosmo de uma sociedade em que a estrutura militar impera (os pontos de identificação que o romance faz com nosso país - e com tantos outros paises latino-americanos - que viveu 20 anos de ditadura militar como todos sabem, mas alguns fazem questão de ignorar, é assombrosa) bem como o brilhante retrato da construção equivocada e perigosa do masculino, que tantas prejuízos trazem tanto às mulheres quanto aos próprios homens.

Impossível não lembrar do livro de Flavio Gikovate: Homem - O Sexo Frágil?, em que os mecanismos sociais geradores desse modelo são claramente expostos.

Em seu livro, Gikovate disseca cada fase da vida de um homem, desde o momento em que, feita a ultrasonografia, é identificado o sexo de um bebê, até a vida adulta. E o que acompanha todas essas fases é sempre um grande medo também chamado de HOMOFOBIA.

Logos após os pais serem conhecedores do sexo (masculino) de um bebê, diz Gikovate em seu livro, o segundo grande medo (o primeiro é que nasça com algum problema físico ou mental) é o de que ele possa vir a ser (ou tornar-se, na crença da maioria) homossexual.

Quando esta criança nasce, esse medo permanece oculto no inconsciente dos pais até o momento em que esta (por volta dos cinco anos) começa a esboçar os primeiros traços de personalidade, quando qualquer manifestação de delicadeza ou de fragilidade é reprimida como sendo algo que não deve fazer parte da identidade masculina.

Depois de todo este medo ter sido introjetado, numa fase tão importante da formação do ser humano como é a infância, chega o momento dele se manifestar de forma perturbadora no garoto adolescente. È o momento em que ele, tendo um amigo que já arranjou uma namorada, transou ou ficou com alguma menina, e ele ainda não, se questiona: Será que eu sou gay? Essa pergunta, colocada aqui de forma tão simples, é para ele um fantasma que vai persegui-lo por um bom tempo – até quando for capaz de aprender a afastar de si qualquer manifestação de comportamento que porventura posso ser vinculado ao mundo feminino.

Mas quando violência foi praticada contra esse menino/rapaz/homem até então! E quantas conseqüências nefastas tudo isso ainda vai gerar ao longo de sua vida!

Outro dia ouvi de uma amiga:

- Ontem eu saí com um cara, mas ele não tentou me comer. Nem pegou na minha bunda nem nos meus peitos. Será que ele é gay?

Vejam a que ponto chegamos? O macho pegador/comedor é sempre esperado, até mesmo pelas mulheres que ainda reclamam exatamente deste tipo de comportamento dito masculino.
Apesar de que um número bastante significativo de mulheres terem tornado o homem um objeto e vêem nisso um avanço da nossa sociedade, “afinal as mulheres foram tratadas como objeto por tanto tempo – e continuam sendo – que mal há em serem os também os homens, tratados como objetos?”.

No meu ponto de vista, avanço seria se tivéssemos conseguido deixar de tratar a mulher como objeto e não fazer o mesmo com o homem. A crença, que às vezes considero uma utopia, é que algumas décadas após termos passado ao outro extremo com relação à sexualidade (antes era um tabu, agora é algo completamente descartável) o ser humano consiga achar um equilíbrio. E esse equilíbrio só será possível quando conseguirmos integrar o masculino e o feminino dentre de cada um de nós homens e mulheres.

Mas voltando a novela de Vargas Llosa, é no colégio militar que estes comportamentos constitutivos da construção do masculino são explicitados de maneira crua e violenta. E neste ambiente repleto de “modelos de masculinidade” que o exercício do poder e do jugo sobre o outro se fazem necessários à sobrevivência. E aquele que não for capar de agir de maneira truculenta e feroz será humilhado pelos demais e chegará até mesmo a perder a vida. O personagem RICARDO ARANA, batizado como ESCRAVO - por sua fragilidade e delicadeza - num rito de iniciação grotesca de cunho claramente sexual, é assassinado num exercício de tiro pelo mais temido (leia-se HOMEM) dos alunos que, ao chegar ao colégio se autodenominou de JAGUAR. Não e a toa que todos os adjetivos aqui utilizados (bem como na novela de Llosa) para falar do personagem são imediatamente identificados com o animal que lhe serve de codinome.

É claro que não se faz necessário dizer que os fatos narrados na novela de Llosa acontecem por ai com mais freqüência do que imaginamos (os casos de tortura praticados pelo polícia que, de vez em quando vem à tona é uma das muitas e evidentes provas disso).

Às vezes me espanto com o fato do quão frágil é essa tal de “masculinidade” que um simples gesto de delicadeza ou de fragilidade é capaz de quebrar. Também pudera, construída que é em cima de tanta dor, violência e autopunição como poderia ser diferente?

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

sexta-feira, 18 de julho de 2008

SOU VEGETARIANO. E DAÍ?


Não se preocupem, não vou explicar os motivos que me levaram ao vegetarianismo. Muito menos falar dos benefícios desta alimentação. O que eu quero mesmo é pedir pras pessoas: ME DEIXEM! ME LARGUEM! NÃO ME MASSEM!

Sempre que alguém fica sabendo, por quais circunstancias que forem, que não como carne, lá vem a pergunta infame: "Você come o que? " Além da falta de originalidade (já ouvi isso um milhão de vezes) é de uma ignorância atroz. Como se não existisse uma infinidade de verduras, legumes, leguminosas, raízes, tubérculos, sementes, nozes...

O segundo comentário imbecil refere-se ao desfiar das delícias da picanha, da maminha, do churrasco...
Percebo sempre por parte dessas pessoas, um certo sadismo que advém, talvez, de um mecanismo de defesa. Por que elas se incomodam tanto com o fato de alguém ter uma alimentação diferente da sua? Será que tem a ver com o fato delas estarem acima do peso (e isso numa cultura tirânica com relação ao corpo como a nossa, é terrível), de não terem a disciplina necessária pra manter-se numa alimentação mais saudável ou por terem algum problema de saúde?
Sim, porque o terceiro comentário infame diz sempre respeito à necessidade de consumo de proteína animal para se manter uma saúde perfeita. "Por que a ciência isso, por que a ciência aquilo..."
Permitam-me perder a compostura: ESTOU CAGANDO para esta ciência que adoece as pessoas, por um lado, para lucrar por outro, na tentativa de curá-las. Digo tentativa porque o que faz a medicina tradicional (na maioria das vezes) é gerar, com seus medicamentos cheios de efeitos colaterais, mais e mais doenças. Outro dia ouvi de um desses cientistas que trabalha com oncologia que um paciente que se cura de um câncer sempre volta ao consultório com outro.

Pois eu estou vendendo saúde sim! Há anos não tenho um resfriado nem tenho necessidade de comprimidos pra a acordar, pra dormir, pra dor de cabeça, pra azia, má digestão...

Por isso, eu quero dizer pra estas pessoas: ME LARGUEM! NÃO ME MASSEM! ME DEIXEM COMER O QUE EU QUISER!
E da próxima vez que me perguntarem o que eu como, eu vou responder: MERDA. EU COMO MERDA.

E assunto encerrado!

sexta-feira, 20 de junho de 2008

O QUARTO, DE HAROLD PINTER - UMA LEITURA ARQUETÍPICA

Rose, a mulher que cuida, que alimenta, que protege (aspecto positivo da anima) fala, fala e fala com Bert, um homem que nada responde (revelando a ausência de diálogo e de interação entre masculino e feminino) encontra-se num quarto (representação simbólica do aspecto mais íntimo da psique).
Este quarto faz parte de uma casa (representação da psique) que se encontra em ruínas.
Evidencia-se aqui o aspecto fragmentário, incompleto, em desequilíbrio de uma psique cujos pólos masculino/animus e feminino/anima não estão integrados.
A visita de um outro casal (Sr. e Sra. Sands)representa, portanto, uma ameaça. Como o casamento entre anima e animus poderá habitar um casa/psique em ruínas?
Uma das falas da mulher (Sra. Sands) nos chama atenção – “Eu não te coloquei no mundo”. Se por um lado, a esterilidade da mulher (que não gerou/colocou o homem no mundo) evidencia uma vez mais essa fragmentação da psique, por outro, reafirma a representação simbólica deste casal no texto de Pinter pois, se o homem não foi colocado no mundo pela mulher (“Então quem foi? È isso que quero eu quero saber. Quem colocou? Quem é que me colocou no mundo?” – diz o Sr. Sands), o Sr. e a Sra. Sands são um símbolo, como o são Adão e Eva, do casal primordial e da união dos opostos.

O numero do quarto – 7 – é outro elemento carregado de simbologia. No Dicionário de Símbolos de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant o verbete dedicado ao SETE é um dos mais extensos. Listamos abaixo alguns aspectos ali contidos sobre o número 7:

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Inicialmente observou-se que o sete é o número da conclusão cíclica e da sua renovação. Tendo criado o mundo em sete dias, no sétimo Deus descansou e fez dele um dia santo; portanto, o sabá não é realmente um repouso exterior à criação, mas o seu coroamento, a sua conclusão na perfeição. É o que evoca a semana, que dura um quarto lunar.

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O número sete é o símbolo universal de uma totalidade, mas de uma totalidade em movimento ou de um dinamismo total. Como tal, ele é a chave do apocalipse (7 igrejas, 7 estrelas, 7 espíritos de Deus, 7 selos, 7 trombetas, 7 trovões, 7 cabeças, 7 calamidades, 7 taças, 7 reis).

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O Sete é usado 77 vezes no Antigo Testamento. O número sete, pela transformação que inaugura, possui em si mesmo um poder, é um número mágico. À tomada de Jericó, sete sacerdotes com 7 trombetas devem, no sétimo dia, dar sete voltas à cidade.

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O sete encerra, entretanto, uma ansiedade pelo fato de que indica a passagem do conhecido ao desconhecido: um ciclo concluído, qual será o próximo?

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O sete é também o número de satanás, que se esforça em imitar a Deus – um macaco de imitação de Deus. Assim, a besta infernal do Apocalipse (13, 1) tem sete cabeças. Mas, na maior parte do tempo, o vidente de Patmos reserva aos poderes do mal a metade de sete – três e meio – indicando com isso o fracasso das iniciativas do mal (Apocalipse 12,6) : o dragão não pode ameaçar a mulher (= o povo de Deus) mais que 1.260 dias = três anos e meio (ver ainda 12,14: três tempos e meio).


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No Talmude, os hebreus também viam no número sete o símbolo da totalidade humana, ao mesmo tempo masculina e feminina, através da soma de quatro e três. Com efeito, Adão, durante as horas do seu primeiro dia recebe a alma que lhe dá completa existência na hora quatro; é na hora sete que recebe a sua companheira, isto é, que se desdobra em Adão e Eva.

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O sete, soma do 4 fêmea e do 3 macho, é também o número da perfeição para os bambaras (grupo étnico que vive no oeste da África, principalmente em Mali mas também na Guiné, Burkina Faso e Senegal). O deus soberano, Faro, deus da água e do verbo, mora no sétimo céu, com a agua fecundadora que ele distribui sob a forma de chuva. É igualmente no sétimo céu que o sol cai, todas as noites, ao final do seu trajeto. A terra, como os céus, compreende sete andares e as aguas terrestres também são sete, assim como são os metais. O sete é, ao esmo tempo, o número do homem e do princípio do universo.
Como soma de 4 e 3, ele é o signo do homem completo (com seus dois príncipios espirituais de sexos diferentes), do mundo completo, da criação concluída, do crescimento da natureza. È também a expressão da Palavra Perfeita e, através dela, da unidade original.


Como vimos, a simbologia do número sete encerra, em várias culturas, o significado de perfeição, de completude. É extremamente significativo que seja o SETE que enumere o quarto onde a ação da peça se desenrola. E como se tivéssemos um devir às avessas. É dentro de um espaço representativo da perfeição, que vemos o desenrolar de um enredo que nos leva, no final, ao ato de violenta exterminação da sombra (representado pelo personagem Riley).
Sombra que, aliás, é o aspecto simbólico/arquetípico mais presente na obra. É dele (Riley) que se fala o tempo todo: Rose insiste em saber quem mora no porão; o Sr. e a Sra. Sands não o viram, apenas ouviram sua voz ( o que comprova mais um vez sua representação da completude); o Sr. Kidd , o Senhorio (representação da parte mais consciente da psique –o ego - sabe da existência da sombra, pode vê-la, conversa com ela e a traz do hades- o porão - ao mundo dos vivos).

É sobre ela (a sombra), portanto, que nos deteremos um pouco mais.



Não precisamos ser um quarto mal assombrado –
Nem precisamos ser uma casa.
O cérebro tem seus corredores – que vão além do material.
Muito mais seguro, é encontrar à meia-noite
Um fantasma esterno,
Do que confrontar sua contrapartida interior
– o anfitrião gelado.
Muito mais seguro, é galopar pela igreja
perseguido pelas pedras,
do que encontrar, desarmado, nosso próprio rosto
em um lugar ermo.
Nós mesmos, escondidos atrás de nosso rosto
- é o que mais aterroriza.
Um assassino escondido em nosso apartamento,
é um horror menor.
O corpo pede um revolver emprestado –
e tranca a porta,
que dá para um espectro superior
- ou mais.

Emily Dickinson



“Dentro de cada mulher e de cada homem, a caverna escura do inconsciente é a guardiã de sentimentos proibidos, desejos secretos e anseios criativos. Com o tempo, estas forças “escuras” adquirem vida própria e formam uma figura intuitivamente reconhecível – a sombra. Tema recorrente na literatura e na lenda, a sombra é como um gêmeo invisível, um estranho que mora dentro de nós, mas que não é quem somos. Quando a sombra age em público, vemos nossos líderes como vilões, incorrerem no escândalo e caírem em desgraça. Em nosso cotidiano, podemos ser dominados pela raiva, obsessão e vergonha ou depressão. Estas aparições da sombra nos mostram o Outro, uma força poderosa que desafia nossos melhores esforços para domesticá-lo ou controlá-lo.”

No livro O JOGO DAS SOMBRAS, de Connie Zweig e Steve Wolf, de cuja introdução foi retirado o trecho acima, os autores fazem (à luz da psicologia junguiana) um estudo de como a sombra age e se faz presente em todos os aspectos de nossa vida: no trabalho, nas amizades, nos relacionamentos afetivos...

È a sombra, a partir do momento que a ignoramos, que nos pega de surpresa e nos faz reféns levando-nos a atitudes, na maioria das vezes, agressivas contra aqueles que inconscientemente julgamos ser a representação do mal, o que pode gerar desde agressões verbais, assassinatos sem motivos relevantes (em decorrência de brigas no transito, por exemplo) ou massacres coletivos como o perpetrado aos judeus pelo nazismo.
O caso do rapaz que há poucos dias foi agredido por skinheads na Rua Augusta, é um exemplo claro do que a psicologia junguiana chama de “projeção de sombra”. É esse aspecto, que eu desconheço, que habita a caverna escura do meu inconsciente que eu projeto no outro e como não o aceito e não o compreendo, quero eliminá-lo.

Mas o grande paradoxo existente na sombra é que ela resulta do acumulo de nossas potencialidades criativas mais luminosas que o processo civilizatório nos fez renegar, esconder, castrar... É quando somos obrigados pela autoridade familiar ou social a reprimir nossas potencialidades inatas porque “não é educado”, “não é certo”, “é pecado” que vamos formando nossa sombra, como se carregássemos uma imensa sacola nas costas aonde vamos colocando essas potencialidades não compreendidas e aceitas durante o processo de nossa formação como indivíduos sociais. E quanto maior for o peso da sacola, mais encurvados psicologicamente falando ( e, às vezes, fisicamente também) vamos ficando.

Reconhecer e se apossar da nossa sombra é, consequentemente, encontrar esse lado luminoso, onde habita nosso ser criativo. E esse processo foi e continuará sendo objeto sobre o qual se debruça a arte, seja a literatura, a pintura, o teatro...

Diante da recusa do homem moderno de entrar em contato, de forma consciente, com seus aspectos sombrios, o teatro contemporâneo, e Harold Pinter é um de seus mais fortes representantes, vem se utilizando desses aspectos como matéria prima.
Em O QUARTO, o que Pinter nos revela de mais assustador é que seguimos eliminando a nossa sombra, incorrendo no risco de eliminarmos também a nossa luz. É o que acontece com Rose, cuja cegueira decorre da eliminação de sua sombra (Riley) pelo seu aspecto masculino não integrado (Bert).*

* Na cena final de "O QUARTO", Bert - o marido de Rose, de volta de um passeio com sua carreta, em que "retirou das estrada um carro que não andava, batendo nele" , encontra Rose com Riley e o mata violentamente.

terça-feira, 10 de junho de 2008

ESSA NOSSA AMIGA - A SOMBRA


http://www.jorgedrexler.com/


Estava eu vendo o making off do show CARA B do cantautor uruguayo Jorge Drexler (a obsessão da vez – hahahahahaha - baixei toda a sua obra, única maneira de conhecê-lo já que no Brasil não sai nada dele) e, de repente, uma enorme emoção me invade.


As primeiras vezes em que entrei em contato com Jorge (infelizmente só pela internet – quando ele esteve em São Paulo fiquei sabendo um dia depois) deparei-me com um galã. E para mim, os galãs servem somente para uma - às vezes - breve apreciação de sua beleza estética e aparente.


Apesar disso, me interessei por muitas de suas músicas embora não me tocassem tanto quanto a obra de Pedro Guerra, um outro cantautor espanhol, cuja figura (ele é extremamente magro, dentuço e usa uns óculos tipo intelectual) cantando descalço – como Bethânia – me encheu de uma comoção advinda dessa identificação, que geralmente sentimos quando estamos diante da representação daquilo que existe de mais frágil em nós.



http://www.pedroguerra.com/

No citado making off, o que aparece nitidamente em volta da bonita estampa (ou seria “fina estampa”?) de Jorge Drexler é uma grande névoa escura, repleta de melancolia, de tristeza, de dor, de fragilidade.

E eu chorei!

E com as lágrimas foram-se todos os pré-conceitos que tive quando vi pela primeira vez a imagem deste homem que apesar de tão bonito, não se utiliza da beleza como máscara para encobrir seu lado sombrio, como fazem tantos tolos.

Mas como um artista de tanta sensibilidade, poderia ser tolo?



Hermana Duda (Jorge Drexler)

No tengo a quien rezarle pidiendo luz,
ando tanteando el espacio a ciegas..
No me malinterpreten,
no estoy quejándome..
Soy jardinero de mis dilemas.
Hermana duda,
pasarán los años,
cambiarán las modas,
vendrán otras guerras,
perderán los mismos...
y ojalá que tú
sigas teniéndome a tiro.
Pero esta noche, hermana duda,
hermana duda, dame un respiro.
No tengo a quien culpar
que no sea yo,
con mi reguero de cabos sueltos...
No me malinterpreten,
lo llevo bien,
o por lo menos
hago el intento.
Hermana duda,
pasarán los discos,
subirán las aguas,
cambiarán las crisis
y pagarán los mismos
y ojalá que tú
sigas mordiendo mi lengua
pero esta noche...
hermana duda..

hermana duda, dame un respiro.

sábado, 31 de maio de 2008

A SOLIDÃO LOGO ACIMA DE NOSSAS CABEÇAS


Não.
Eu não quero falar que há muito a parada virou um carnaval.

Não quero falar que o espírito de congraçamento entre raças, cores e classes sociais não existe mais.

E muito menos quero falar que a parada reforça a imagem negativa que a sociedade tem dos homossexuais (com os carros que fazem, em sua maioria, menção a sites pornográficos e saunas masculinas; com o excesso de afetação; com as orgias praticadas em plena praça da república...).

Eu quero falar de uma senhora (a da foto) que se encontrava na sacada de um edifício situado em uma das avenidas percorridas pela parada.

A expressão de extrema solidão e apatia, certa atitude de desprezo (?) que ela esboçava me fez perguntar porque havia se postado ali pra ver a parada passar. E imediatamente me fez vez o esforço que todos faziam, logo abaixo, para parecerem felizes, integrados, livres... Inclusive nós (eu e mais dois amigos) que, talvez, fossemos os únicos sóbrios em meio à multidão (quantos éramos mesmo?).


Mas muita alienação seria necessária para permanecer feliz, quando diante dos meus olhos havia um garoto (tinha talvez uns oito anos) que trajando uma sunga branca dançava em plena avenida com todos os trejeitos característicos do “mundo gay”. Será que estava sozinho? Ou estava acompanhado dos pais?????

Tamanha propriedade com que alguém tão jovem exibia a sua sexualidade me assustou e me fez lembrar das nossas meninas, que vestidas com roupas minúsculas, fazem, em festas familiares, imitações das dançarinas de axé que até bem pouco tempo pululavam aos nossos olhos nos programas de TV.

Mas será mesmo que aquele garoto tinha consciência do que estava representando ali? E mais ainda, será que ele realmente tem consciência de qual seja a sua (des)orientação sexual?

Às vezes penso que ser gay (como ser qualquer outra coisa, na sociedade atual) virou um “modelito” de número único, que todos tem que vestir, se adequar a ele, sem qualquer questionamento. E não interessa o tamanho da violência que se sofra ou se auto-imponha, o que importa é vesti-lo. Individualidade (uso a palavra como significado da expressão de um indivíduo) não cabe neste “modelito”. E se não existem indivíduos, pois se tornou tudo uma grande massa indistinta, a tão propagada diversidade está longe de existir.

Enquanto isso, alguns continuam se iludindo, acreditando que seremos respeitados e aceitos se formos pra rua uma vez por ano esfregar na cara das pessoas as nossas mazelas.

Vocês devem estar se perguntando o que eu fui fazer ali? Nem eu mesmo sei. Talvez seja porque eu sou “lésbico”. Mas isso é assunto pra um futuro post.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

SENHORA DOS AFOGADOS - UM MELODRAMA




Este pequeno artigo constitui-se num ritual de morte. Ou melhor, num ritual de assassinato. Aquilo que os psicanalistas chamam de “matar o pai interno”.

Antunes Filho foi, por muitos anos, um mito pra mim. O seu Centro de Pesquisas Teatrais, o seu método, seus espetáculos de visual limpo e apurado, os grande atores quer “formou” e dirigiu...
Esse mito se quebrou quando vi Senhora dos Afogados.
Penso que Senhora dos Afogados, juntamente com Anjo Negro (um dos poucos textos de teatro que ousa tocar na questão do racismo de forma radical e original) são os dois textos mais difíceis de Nelson Rodrigues não só pela sua estrutura, mas pelo aspecto trágico que os mesmos carregam.

A montagem de Antunes, com seus característicos deslocamentos em bloco (parece que estamos vendo o ultimo espetáculo do grupo Macunaíma – A Pedra do Reino) e, principalmente, com uma música prévia que permeia a fala dos atores, enfraquecem o texto de Nelson, quando não presentificando a palavra (um dos pré-supostos da trágédia é que os personagens são o que falam) não a fazem virar carne e sangue e, consequentemente, vida.

Ao ler Senhora dos Afogados é impossível não lembrar do caso da menina Isabella, alardeado incessantemente pela imprensa. A FAMILIA DRUMONT É A FAMILIA NARDONI (até que se prove o contrário). Montar Senhora dos Afogados ou Anjo Negro sem provocar no espectador esse horror, sem mostrar a cada um de nós o assassino que abrigamos nas profundezas de nossa sombra (uso aqui a palavra sombra no sentido junguiano) não faz nenhum sentido. Vira apenas mais um espetáculo para inciados (nós, gente de teatro) que admira o mestre e sua estética. Estética, aliás, que começa a tornar-se questionável. Como uma obra (Senhora do Afogados) tão distinta de outra (A Pedra do Reino) pode ser levada ao palco com caracteríscas estéticas e visuais tão semelhantes?

Um crítico disse tratar-se a montagem de uma obra prima (não sei se foram exatamente estas as palavras) e apontou a qualidade das interpretações como ponto fraco do espetáculo. Mas estes atores não foram formados pelo método pesquisado há tantos anos no CPT?
Sabe-se que no CPT acontece uma grande rotatividade de atores, talvez pela dificuldade de se adaptarem ao método (extremamente rígido – COMO TEM DE SER). Mas a existência de um núcleo forte e talentoso mantinha o método vivo, contagiando os recém-chegados com o alto nível da pesquisa ali desenvolvida. Este núcleo sempre girou em torno de grandes atores. Luis Melo e Juliana Galdino são dois exemplos. Tenho impressão que Lee Talor está sozinho, tentando carregar um espetáculo nas costas. Tarefa ingrata pois Senhora dos Afogados (como a maioria das obras de Nelson Rodirgues) tem sua força centrada nos personagens femininos.

Por tudo isso, o que vemos em cena é um melodrama com todo o distanciamento que o gênero provoca no espectador de hoje, bombardeado pela violência completamente banalizada pelos meios de comunicação de massa.

P.S. : Passei o espetáculo inteiro esperando o momento em que entrariam os bonecos. Ainda bem que eles não foram utilizados desta vez.

"AO VENCEDOR AS BATATAS"

Tenho alguns amigos que dizem que eu escrevo bem -coisa de amigo- e que devo exercitar isto com um pouco mais de disciplina. Pois bem.... Este blog se destina à publicação das minhas idiossincrasias. Como diria o personágem Solioni da peça AS TRÊS IRMÃS, de Anton Chekov: "Menino, menino, menino." Depois não digam que eu não avisei: Ai vem chumbo grosso! hahahahahahahahahahahhaahahahahahahahahaha. Portanto, machadianamente vos digo: Ao vencedor as batatas. Mas que sejam fritas, pelo menos, que é mais ao agrado da maioria.

Pero a mi no me gustam las patatas fritas, aunque ayer las tenga comido.

Aos futuros leitores deste blog BIENVENIDOS.