Eu sei.
Estamos vivendo em um momento de profundas contradições.
Se por um lado
estamos despertando para questões tão fundamentais à vida como o respeito aos
animais, por outro - muitas vezes - não podemos sequer esperar do outro um “bom
dia” como resposta. Falta de consideração? De educação? Muito mais que isso; o
que nos falta é a consciência de que estamos todos ligados pelo fio da vida,
que nos une a todos, indiscriminadamente.
"Os suicidas chocam
a sociedade dos homens e têm os velórios mais tristes... pois todo suicida se
mata por todos nós."
(Alma Welt)
E não adianta simplesmente se retirar, deletar ou excluir.
É fácil perceber as consequências desta inconsciência no nível
macroscópico: a destruição do planeta, a dizimação dos povos indígenas, as
guerras... Mas precisamos urgentemente perceber que tudo isso nasce dos
pequenos gestos.
Mais do que pessoal, esta é uma questão existencial – no sentindo
de resignificarmos nossa existência neste planeta.
E se falo disso com a veemência do gesto e com a eloquência da
voz é porque não nasci pra ser metade, só me coube ser intenso.
Não me peça para desacreditar na possibilidade desta
consciência, porque é dessa crença que me alimento como homem e como artista –
muito embora ela ande abalada ultimamente e talvez esta seja a verdadeira razão
para eu não estar produzindo no momento. Mas ela não está morta – no dia que
isso acontecer, eu morrerei junto, como homem e como artista, e passarei a ser
um destes seres amorfos que passam pela vida como se não tivesse vivido.
Não pense que não identifico em mim tal inconsciência e que,
ao fazê-lo, doa menos do que no momento em que identifico no outro; e muito
menos que o faço por egoísmo ou tão somente para ganhar a discussão – “ganhadores”
e “perdedores” são conceitos atrelados a uma lógica à qual nós artistas, se não
o fazemos, deveríamos nos contrapor pelo simples fato de que ela é falha: se eu
ganho, ganhamos todos nós. E vice-versa. E se o faço é imbuído do mais profundo
amor pela humanidade e pela crença em mim, em você, no homem e na nossa
capacidade de transformar as relações humanas em algo que passe, sobretudo,
pelo respeito e que nos que leve à consciência de que nós somos UM.